17.10.06
De 119 a...
Desde a série do Detroit contra os Yankees, a imprensa americana não pára de lembrar a todos que há apenas três anos os Tigers perderam 119 jogos, chegando a ameaçar seriamente o recorde de 120 derrotas dos Mets de 1962. Há pessoas que não agüentam mais ouvir sobre isso. Acho que eu também não.

Só que sempre vale tentar explicar como isso aconteceu, afinal não é um feito corriqueiro, algo que possa ser explicado com alguns poucos lances de sorte ao longo de uma temporada. Eu começaria nomeando como um dos grandes "culpados" o dono do time, Mike Ilitch, que sempre renegou os Tigers em favor de seu outro time, os Red Wings da NHL. Era na máquina vermelha que ele investia, várias vezes com um bom retorno, seus dólares, o que ajudou a tornar os Wings forças perenes no hóquei.

Enquanto isso, os Tigers ficavam à míngua, com um elenco que provavelmente não seria competitivo nem nas ligas AAA. Não fossem três vitórias nos três últimos jogos de 2003, e os Tigers teriam no mínimo igualado o infame recorde dos Mets. Encerrada a temporada, Ilitch foi atrás de Ivan Rodríguez, um dos destaques dos Marlins, campeões naquele ano. Só ele estava disposto a oferecer um contrato de quatro anos ao "Pudge" ("atarracado", em português).

O gerente geral Dave Dombrowski foi contra e conversou seriamente com Ilitch a respeito do arriscado contrato. Mas o dono do time, que não construiu sua fortuna ganhando na loteria, não deu ouvidos, e I-Rod aterrissou em Detroit. Magglio Ordoñez foi outra contratação que veio da cabeça de Ilitch. Há dois anos, quem iria querer ser contratado pelos Tigers? Nem Ordoñez queria, provavelmente. Sem jogar durante praticamente toda a temporada de 2004, ele tinha uma oferta por um ano dos Cubs, e só aceitou ir para Detroit quando a oferta se tornou absolutamente irrecusável: US$ 75 milhões por cinco anos, que ainda podem subir para US$ 105 milhões dependendo da produtividade do jardineiro-direito.

Claro que esses dois não são os únicos responsáveis em campo pela reviravolta. Não são nem os maiores. Mas eu tinha de começar por alguém, não? Além de Ilitch, claro, é impossível não mencionar Dombrowski e sua equipe, especialmente Greg Smith, o responsável pelo recrutamento, que selecionou as pérolas Justin Verlander, Joel Zumaya e Curtis Granderson, outras peças importantes do quebra-cabeça.

Os cabeças do departamento de beisebol conseguriam trazer mais engrenagens para azeitar a máquina em trocas bem-sucedidas. Jeremy Bonderman veio de Oakland — não é todo dia que alguém passa a perna no GG dos A's, Billy Beane —, Nate Robertson, do Florida, Carlos Guillen, do Seattle, Craig Monroe, do Texas, via desistência, Wilfredo Ledezma, do Boston, via recrutamento da Regra 5. Isso sem falar em Plácido Polanco, que veio do Philadelphia numa troca que ainda serviu para livrar os Tigers de Ugueth Urbina.

Fechando esse festival de confete, ainda há uma última decisão de Dombrowski: trazer Jim Leyland para comandar esse time, repetindo a parceria GG-treinador que deu certo na Flórida em 1997. Para Dombrowski, Leyland é "o maior fator" na ascensão dos Tigers.

Ingredientes reunidos, a receita começou a ser executada já no início da temporada, quando o time liderou as grandes ligas por meses. O prato começou a ficar com um cheiro de queimado no final da temporada regular, quando o time começou a perder jogo atrás de jogo e chegou sem nenhum embalo aos playoffs depois de perder três seguidas para os Royals e, conseqüentemente, o título da divisão.

Mas os cozinheiros souberam dar a volta por cima, e os Tigers agora nem precisam esperar o campeão da Liga Nacional para ser considerados os favoritos na Série Mundial. Um sujeito, aliás, está ganhando uma bolada com a classificação do Detroit para o Clássico do Outono. Antes da temporada, ele apostou que o time venceria a Liga Americana, apostando US$ 500 a 90 para 1. Em algum ponto antes ou durante a SCLA, ofereceram a ele US$ 20 mil para liqüidar a aposta. Ele não aceitou. E agora vai ganhar US$ 45 mil.

Ah, se você ainda não se cansou de ouvir sobre o time-que-perdeu-119-jogos-e-três-anos-depois-está-na-Série-Mundial, o artigo que Tom Verducci publicou hoje na SI.com é muito bom. Ele explica, usando os números, por que acha que os Tigers são o time mais surpreendente a chegar a uma Série Mundial na história. Mais que os Braves de 1914 ou os Mets de 1969.

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Escrito por Alexandre Giesbrecht | 0 comentários
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