28.10.06
São os Cards!
No meio do mar de bonés vermelhos, era quase impossível enxergá-lo. Do "alto" de seu 1,70 m, David Eckstein era visto apenas pela ponta de cima de seu boné, mas ele provavelmente pouco estava se importando. Não era ali que ele precisava ser visto. Ele já tinha sido visto o bastante durante a série. Visto ocupando bases, para falar a verdade. E seria visto poucos minutos depois, sendo coroado oficialmente o MVP da Série Mundial.

Nos dois primeiros jogos, ele ficou na dele, sem nenhuma rebatida válida em nove tentativas. Mas as seis que conseguiu nos dois últimos jogos, impulsionando quatro corridas, foram o suficiente para ele ser considerado o jogador mais importante no décimo título dos Cardinals. Tudo bem, não foi o único. Yadier Molina, aquele mesmo que teve um aproveitamento de meros 21,6% na temporada regular (se tirar os jogos contra os Pirates, então, essa média se bobear tendeu a zero), rebateu três vezes no jogo decisivo, acumulando sete em 16 tentativas durante a série inteira.

Os arremessadores também foram importantes. Jeff Weaver, no jogo 5, permitiu apenas uma corrida (a outra foi não-permitida) em oito entradas. Chris Carpenter foi espetacular no jogo 3. Jeff Suppan e até o novato Anthony Reyes também cumpriram o seu papel. Albert Pujols nem precisou brilhar.

No jogo 5, não houve chuva interferindo, não houve mancha polemizando. Houve duas equipes batalhando por motivos diferentes. Uma apenas para sobreviver por mais um dia. Outra para não deixar que esta série voltasse a Detroit. Ganhou a que teve mais sorte — ou seria "menos azar" — ao longo da série. Não, melhor riscar essa última frase. Estes campeões têm muito pouco de sorte neles. Contaram com a ajuda do adversário, que cometeu erros como um aluno do primário tentando passar em um vestibular, é verdade.

Mas estes campeões produziram o que precisaram. Era bom ter duas corridas de vantagem nas últimas duas entradas? Claro. Então Scott Rolen rebate para a direita e adivinhe quem marca 4-2? Eckstein. Algum erros dos Tigers aí? Se houve, então eu preciso voltar a usar óculos. Na defesa, os Cardinals presenciaram alguns dos piores momentos do ataque do Detroit no ano, mas por que isso não pode ser atribuído a seus arremessadores, ainda mais com os números sensacionais que eles tiveram na Série Mundial?

O ponto de vista preferido dos jornais da manhã deverá ser o fato de que esses Cardinals foram incapazes de vencer 84 jogos durante a temporada regular. Eles vão lembrar que o time de Pujols quase desmoronou no final de setembro, em uma derrocada que teria sido a pior de todos os tempos. Vão lembrar que nenhum time na história foi campeão tendo ganho uma porcentagem menor de jogos ao longo do verão setentrional.

Como se a torcida de St. Louis estivesse ligando. Ela está é orgulhosa disso. Ela pode bater no peito e dizer que seu time demonstrou uma garra poucas vezes vista, quando um time juntou seus cacos e, contra três times que vinham mais embalados, eliminou um a um. Não sem dificuldades, mas quando se dá tudo de si, quando se deixa todo o suor em campo, é difícil alguma barreira não ser superada.

É assim que eu resumo o que os Cards acabaram de conquistar. Não que os jogadores estejam sequer pensando nisso. Neste exato instante, devem estar tomando banho de champanhe no vestiário, preparando alguma comemoração para varar a madrugada, beijando o troféu, sei lá. Mas para cair a ficha ainda serão necessários alguns dias.

Não vai haver manchete de jornal que os acorde deste sonho pela manhã.

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Escrito por Alexandre Giesbrecht | 0 comentários
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